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quarta-feira, 25 de abril de 2012

A guerra está declarada.

Quando Romeo e Juliette se conhecem numa balada, especulam, brincando, se não estariam condenados, pelos nomes, a um destino trágico. Jovens e felizes, após pouco tempo de namoro eles ganham um filho, Adam. O bebê representa para o casal algo muito maior e mais difícil que o desafio do amadurecimento e da responsabilidade: com 18 meses, Adam recebe o diagnóstico de um tumor no cérebro. Seguem-se, inevitavelmente, a angústia, o medo e a incerteza. Destino?
Não deve existir abismo maior que a perspectiva da perda de um filho, e o processo de assimilação dessa realidade terrível é encenado com sensibilidade e delicadeza pela atriz e diretora Valérie Donzelli. A guerra está declarada, que recebeu vários prêmios no último Festival de Cannes e é o representante da França na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano, é simultaneamente alegre e trágico, celebrando e afirmando a vida em meio ao cenário desolador da doença e da morte. O filme, cuja história é baseada em fatos vividos pela própria cineasta, estreou em janeiro nos cinemas do Rio de Janeiro com status de melhor filme do ano. E não decepciona.
A inventiva linguagem narrativa de A guerra está declarada apresenta uma inocência e um frescor que evocam os primeiros filmes da Nouvelle Vague. Combina de forma inusitada, por exemplo, músicas suaves com cenas nervosas, e vice-versa, com sons e imagens econômicos e levemente sujos e mal acabados – o que aumenta o efeito de verdade das situações, sem abrir mão da poesia. A trilha musical, que vai de Vivaldi a Laurie Anderson, passando por uma versão instrumental de ‘Manhã de Carnaval’, acrecenta significados, mais do que ilustra o estado emocional dos personagens.
O estranhamento é amplificado pela voz em off, que narra e dá um tom fabular ao drama vivido pelo jovem casal em sua jornada sem fim por consultórios médicos e corredores de hospitais, onde o bebê é submetido a tratamentos caros e incertos. Diante de uma exasperante e dolorosa corrida de obstáculos, Romeo e Juliette sofrem e se isolam, mas também se obrigam a sorrir, brincar, achar graça nas coisas, ao mesmo tempo em que refazem a teia de laços afetivos e familiares que os contextualiza como personagens. Conservam a ternura, mesmo nos momentos de maior dor. Entenderam, talvez, que mais importante que aquilo que nos acontece é a maneira como reagimos, pelo menos até onde é possível escolhermos como reagir.