Passei muito tempo tentando
“suprir meus vazios” até descobrir que o que apertava o meu peito era a
quantidade de entulhos emocionais que eu carregava. Eu precisava era do vazio
para me sentir internamente arejada e com bastante espaço para crescer. A
angústia não é um vazio, é uma corrente que se arrasta. O vazio é uma
possibilidade, uma lacuna a ser preenchida, um espaço para uma decoração nova.
Precisamos de páginas em branco para que nasçam poemas, de recipientes
disponíveis, de um coração espaçoso, de uma alma livre, de uma mente aberta. O
vazio só existe para os desapegados, para os que suportam e celebram o silêncio
que possibilita-nos ouvir os sussurros da intuição e não os gritos infantis dos
desejos imediatos. O vazio é uma esperança maciça. Ele não é apenas a falta que
nos move e motiva, mas a lembrança mais genuína de que somos seres inacabados e
que precisamos nos construir diariamente, incansável e eternamente. O vazio não
é um abandono de si, é um reconhecimento do eu, um convite para o Outro, algo
que deve ser preenchido temporariamente, dentro do mesmo movimento humano de
acordar sempre um desconhecido. O vazio é uma curiosidade que ainda não foi
desvendada. É ter braços livres para o abraço que acabará daqui a pouco, mas que
ecoará constantemente na lembrança mais bonita. Porque no toque intenso, o afeto
estava leve.
Marla de Queiroz
Extraído de http://www.doidademarluquices.blogspot.com.br/